terça-feira, 28 de dezembro de 2010

"As únicas pessoas que me interessam são as loucas, aquelas que são loucas por viver, loucas por falar, loucas por serem salvas; as que desejam tudo ao mesmo tempo. As que nunca bocejam ou dizem algo desinteressante, mas que queimam e brilham, brilham, brilham como luminosos fogos de artifícios cruzando o céu."
(Jack Kerouac)
" Dói, um pouco. Não mais uma ferida recente, apenas um pequeno espinho de rosa, coisa assim, que você tenta arrancar da palma da mão com a ponta de uma agulha. Mas, se você não consegue extirpá-lo, o pequeno espinho pode deixar de ser uma pequena dor para se transformar numa grande chaga. "


Caio F. Abreu
Muita gente deve achá-la antipaticíssima, mas eu achei linda, profunda, estranha, perigosa. É impossível sentir-se à vontade perto dela, não porque sua presença seja desagradável, mas porque a gente pressente que ela está sempre sabendo exatamente o que se passa ao seu redor. Talvez eu esteja fantasiando, sei lá. Mas a impressão foi fortíssima, nunca ninguém tinha me perturbado tanto.




Caio F. Abreu
"A vida é mesmo doida. Talvez eu já não esteja completamente aqui. Nem lá, seja onde for. Antes de viajar, fico pairando. Talvez a alma parta antes, e não saiba direito para onde ir sem o corpo. Na morte deve ser parecido."

Caio F. Abreu
'Um dia tu vais compreender que não existe nehuma pessoa totalmente má, nehuma pessoa completamente boa. Tu vais ver que todos nós somos apenas humanos. E sofrerás muito quando resolveres dizer só aquilo que pensas e fazer só aquilo que gostas. Aí sim, todos te virarão as costas e te acharão mau por não quereres entrar na ciranda deles, compreendes?'


Caio F. Abreu
“Não sei como me defender dessa ternura que cresce escondido e, de repente, salta para fora de mim, querendo atingir todo mundo. Tão inesperada quanto a vontade de ferir, e com o mesmo ímpeto, a mesma densidade. Mas é mais frustrante. Sempre encontro a quem magoar com uma palavra ou um gesto. Mas nunca alguém que eu possa acariciar os cabelos, apertar a mão ou deitar a cabeça no ombro. Sempre o mesmo círculo vicioso: da solidão nasce a ternura, da ternura frustrada a agressão, e da agressividade torna a surgir a solidão. Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente.
E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim.”



Caio F. Abreu
"Ou me quer e vem, ou não me quer e não vem. Mas que me diga logo pra que eu possa desocupar o coração."

Caio F. Abreu
"Você precisa cuidar bem do seu barco, senão como vai navegar por aí?"

Caio F. Abreu

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Se sua partida é mesmo inevitável, se seu sonho é mesmo indispensável, se sua vida é mesmo impenetrável, vá logo de uma vez. Não permita que eu me apegue e faça planos, não me deixe crer no que não há verdade. Vá antes de borrar minha maquiagem, ferir minha coragem, antes que eu jogue meus instintos de sobrevivência definitivamente pela janela do prédio como se não me importassem mais sentimentos próprios. Não provoque meus medos, não confunda meu discernimento e não destrua meu equilíbrio. Apenas vá. Leve tudo o que é seu para que a lembrança não perfure meu sorriso cheio de lágrimas. Não me deixe criar um relacionamento individual onde eu sou todos os personagens e nenhum enquanto você é a plateia, única, que faz questão de não aplaudir minhas fragilidades teatrais. Você que preenche minhas lacunas de medo e cinco minutos de vida, deve ter um longo caminho de volta pro seu ser, enquanto eu sobrevivo de te esquecer daqui a pouco. Se minhas palavras embaralhadas confundem sua mente, nem peço lucidez. Já sei o quanto você gosta de estar entorpecido pra esquecer seus problemas ao invés de resolvê-los. Mas não ignore o que eu sou por não ter forças em me decifrar, não fuja antes de saber o que eu posso fazer pra te dar uma vida. Seu medo é de ser feliz? Então dividimos esse pavor doentio da alegria, podemos partilhar o pânico de sorrir até que a tristeza não faça mais sentido a dois.

Se sua partida é mesmo inevitável, se seu sonho é mesmo indispensável, se sua vida é mesmo impenetrável, ao menos arrisque me carregar junto de você.



Veronica H.
Dessa vez não vou evitar dizer o que está na minha cabeça só porque eu sei que minha mente geminiana vai negar no dia seguinte, não fugirei de palavras bonitas porque quem diz não é uma pessoa perfeita, não arrumarei mil defeitos pra brigar contra as novecentas e noventa e nove qualidades, não desviarei meus olhos por medo de ter minha mente lida, não sumirei por medo de desaparecer, não vou ferir por medo de machucar, não serei chata por medo de você me achar legal, não vou desistir antes de começar, não vou evitar minha excentricidade, não vou me anular por sentir demais e logo depois não sentir nada, não vou me esconder em personagens, não vou contar minha vida inteira em busca de ter realmente uma vida.
Dessa vez não vou querer tudo de uma vez, porque sempre acabo ficando sem nada no final.
Estou apostando minhas fichas em você e saiba que eu não sou de fazer isso. Mas estou neste momento frágil que não quer acabar. Fiquei menos cafajeste, menos racional, menos eu. E estou aproveitando pra tentar levar algo adiante. Relacionamentos que não saem da primeira página já me esgotaram, decorei o prólogo e estou pronta pro primeiro capítulo.


Veronica H.
Vou deixar você procurar em todas o que você só vai achar em mim, mas não vou te esperar. Quando você perceber, será tarde demais. Mas eu deixo você olhar, porque você é lindo calado e eu falo para um plateia inteira. Se algum dia Manequim for objeto de palco, a gente se encontra.

Veronica H.
Se dependesse de você, ficaríamos eternamente nos encarando sem chegar em lugar nenhum. Você se tornou o desafio perfeito e, confesso, sua embalagem prometia muito mais do que o produto realmente é. Fui eu quem cuidei da parte da atitude, da conversa, do momento certo. Acho muito cansativo ser responsável por tudo, então eu desisto de tentar te fazer humano. Pode seguir com sua falta de falta de vida, cheio de pose e frases prontas.

Veronica H.
Se você tivesse chegado antes, eu não teria notado. Se demorasse um pouco mais, eu não teria esperado. Você anda acertando muita coisa, mesmo sem perceber. Você tem me ganhado nos detalhes e aposto que nem desconfia. Mas já que você chegou no momento certo, vou te pedir que fique. Mesmo que o futuro seja de incertezas, mesmo que não haja nada duradouro prescrito pra gente. Esse é um pedido egoísta, porque na verdade eu sei que se nada der realmente certo, vou ficar sem chão. Mas por outro lado, posso te fazer feliz também. É um risco. Eu pulo, se você me der a mão.

Veronica H.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Realmente, os homens em geral eram maus companheiros de viagem. Apesar da imensidão e das incertezas do mar, apesar do perigo das tempestades, do raio e da fragilidade do navio, eles ainda se obstinavam em serem inimigos uns dos outros. O sensato seria que se inussem numa atitude de defesa e que se trocassem gentilezas a fim de que a viagem fosse mais agradavel para todos.

Erico Verissimo. (Olhai os lirios do campo)
Um homem forte, nunca pensa em Deus.

Erico Verissimo. (Olhai os lirios do campo)
Mas é preciso um pouco de tudo para fazer um mundo.

Erico Verissimo. (Olhai os lirios do campo)
Quando agente tem uma ferida, faz o possivel pra não meter o dedo nela. Você parece que é desses que gostam de escarafunchar nas próprias feridas.

Erico Verissimo. (Olhai os lirios do campo)
A bondade não é uma virtude passiva.


Erico Verissimo. (Olhai os lirios do campo)
E ele sabia - se sabia! - que um dia, não muito remoto, ele ainda beijaria com amor essa mesma vida incoerente, sórdida, brutal e apesar disso, ou talvez por isso mesmo, bela.

Erico Verissimo. (Olhai os lirios do campo)
Naquela noite ele precisava de estrelas, de muitas estrelas para se convencer de que ainda havia esperança no mundo.

Erico Verissimo. (Olhai os lirios do campo) 
Não tenho nenhuma prevençao contra os ricos, seria tolo de tivesse. Há os que sabem empregar humanamente a sua riqueza. Elogiar a pobreza seria tambem doentio. O mundo foi feito para que todos nele tivessem um lugar decente. Não há nada que melhor ilustre a moral egoista de certas criaturas do que a fábula da cigarra e da formiga. Parece que a cigarra leu o srmão da montanha e quis imitar os lirios do campo. Passou o verão a cantar, ao passo que as formigas trabalhavam e mais trabalhavam.

Erico Verissimo. (Olhai os lirios do campo)
Dizem que os hereges mais danados, na hora da morte, fazem as pazes com a Igreja.



Erico Verissimo. (Olhai os lirios do campo)
Procurar nossa felicidade através da felicidade dos outros. Não estou pregando o ascentimo, a santidade, não estou elogiando o puro espirito de sacrificio e renúncia. Tudo isso seria inumano, segnificaria ainda uma fuga de vida. Mas o que eu procuro, o que desejo, é segurar a vida pelos ombros e estreitá-la contra o peito, beijá-la na face. Vida, entretanto, não é o ambiente em que te achas. As maneiras estudadas, frases convencionais, excesso de conforto, os perfumes caros e a preocupação de dinheiro são apenas uma péssima contrafacão da vida. Buscar a poesia da vida fora da vida será coisa que tenha nexo?.

Erico Verissimo. (Olhai os lirios do campo) 
O dia mais importante da minha vida foi aquele em que, recordando todos os meus erros, achei que ja chegara a hora de procurar uma nova  maneira de ser útil ao proximo, de dar novo rumo as relações humanas.
Que era que eu tinha feito senão satisfazer os meus desejos, o meu egoismo ? Podia ser conciderada uma criatura boa apenas porque não matava, porque não roubava, porque não agredia? A bondade não deve ser uma virtude passiva. No dia em que achei Deus, encontrei a paz exterior. Era preciso fazer alguma coisa pelos outros . O mundo está cheio de sofrimento, de gritos de socorro. Que tinha eu feito até então para diminuir esse sofrimento, para atender a esses apelos? Eu via a meu redor pessoas aflitas que para se salvarem esperavam apenas uma mão que as apoiassem, nada mais que isso. E Deus me dera sua mãos!


Erico Verissimo. (Olhai os lirios do campo) 
Na sua infância ouvira historias de casas assombradas. Sabia agora que existiam conciências assombradas.

Erico Verissimo. (Olhai os lirios do campo)
Uma palavra as vezes move multidões.


Erico Verissimo. (Olhai os lirios do campo)
Ninguem pode desviar o curso do rio da historia, com o perdão do lugar-comum...



Erico Verissimo. (Olhai os lirios do campo)
De repente os homens viram que tudo quanto lhes haviam ensinado em casa e no colégio a respeito de Deus, da igreja da virtude, de recompensa na outra vida, eram lorotas. Descobriram que tinham um corpo cheio de desejos e que para satisfazer esses desejos bastava que eles pulassem o muro das convençoes. Ficaram loucos de alegria quando viram que esse muro era feito de fumaça e não de pedra e cal como parecia. Foi uma corrida maluca. Só ficaram para o lado de cá do muro os timidos e os doentes.


Erico Verissimo. (Olhai os lirios do campo)
Mas realidade também não é só essa que sentimos com os olhos, com a ponta dos dedos, com o nariz.


Erico Verissimo. (Olhai os lirios do campo)
Não lhe deixaram na alma nenhum pavor, nenhuma angústia, mas sim uma grande e profunda tristeza. Ele sabe que a vida vai mudar, que ele se acha de novo parado diante duma encruzilhada. Não pode mais retormar a velha estreda.


Erico Verissimo. (Olhai os lirios do campo)
Ouro... Por que era que os homens não se esqueciam nunca do ouro? Ouro me lembrava outra palavra: sangue. Tempo também era sangue. Ouro se fazia com sangue.



Erico Verissimo. (Olhai os lirios do campo)

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

"Compreenda, eu só preciso falar com você. Não importam as palavras, os gestos, não importa mesmo se você continua a fugir e se empareda assim, se olha para longe e não me ouve nem vê ou sente. Eu só quero falar com você, escute."

Caio F. ABreu
(...) e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de
mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa
que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que
me queres assim porque assim que és (...)


Cai F. Abreu
'Eu te vejo mais fundo do que você me vê, porque eu te invento nesse olhar, porque você se torna o meu invento, porque depois de olhar muito dentro eu prescindo da imagem e o meu olhar repleto se basta, como se eu fosse cego, mas tivesse guardado todas as imagens: um cego vê mais que um homem comum porque não precisa olhar para fora de si, porque o que ele deseja ver está completamente dentro e é inteiramente seu.'

Caio F. Abreu
'Abriam-se portas em mim, janelas quebravam, estilhaços saltavam, pedaços de vidro me cortavam sem piedade, já não via a noite, o dia, o tempo, o espaço onde estávamos, vagávamos no cosmos ou estávamos presos numa esfera conhecida? eu não sabia, eu morria, eu nascia sucessivamente, em desespero, eu compreendia súbito. Não, não era amor. Era terror.'


Caio F. Abreu
Preciso de alguém que tenha ouvidos para ouvir, porque são tantas histórias a contar. Que tenha boca para, porque são tantas histórias para ouvir, meu amor. E um grande silêncio desnecessário de palavras. Para ficar ao lado, cúmplice, dividindo o astral, o ritmo, a over, a libido, a percepção da terra, do ar, do fogo, da água, nesta saudável vontade insana de viver. "


Caio F. Abreu
"Você vai me abandonar e eu nada posso fazer para impedir. Você é meu único laço, cordão umbilical, ponte entre o aqui de dentro e o lá de fora. Te vejo perdendo-se todos os dias entre essas coisas vivas onde não estou. Tenho medo de, dia após dia, cada vez mais não estar no que você vê. E tanto tempo terá passado, depois, que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma importância. Serei apenas memória, alívio, enquanto agora sou uma planta carnívora exigindo a cada dia uma gota de sangue para manter-se viva. Você rasga devagar o seu pulso com as unhas para que eu possa beber. Mas um dia será demasiado esforço, excessiva dor, e você esquecerá como se esquece um compromisso sem muita importância. Uma fruta mordida apodrecendo em silêncio no quarto."


Caio F. Abreu
"Mas afinal, se nascemos neste tempo exato, devemos ter aprontado boas noutra encarnação. E tem o seguinte, meus senhores: não vamos enlouquecer, nem nos matar, nem desistir. Pelo contrario: vamos ficar ótimos e incomodar bastante ainda. Cuide-se bem, você."


Caio F. Abreu
Há situações em que o máximo que se pode fazer é rezar". 


Caio F. Abreu
"Tenho medo de te ferir. Mas acho que precisamos 'falar seriamente'. Desculpe, mas acho que sim, sem fantasia, sem comicidade. Me pergunto sempre se você não teceu em volta de mim uma porção de coisas irreais - se você não está projetando em mim qualquer coisa como um príncipe encantado - esperando a minha volta como quem espera a salvação."



Caio F. Abreu
"É fundamental que você escute todas as palavras, todas, e não fique tentando descobrir sentidos ocultos por trás do que estou dizendo, sim, eu reconheço que muitas vezes falei por metáforas, e que é chatíssimo falar por metáforas, pelo menos para quem ouve, e depois, você sabe, eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem".

Caio F. Abreu
“A raiva é mais mansa e eu me sinto capaz de suportá-la, a raiva cabe em mim porque não permanece, e as coisas só adentram em mim quando podem escapar em seguida, eu sufoco, sei bem, sufoco e quase esmago as coisas, as gentes também, apenas ultrapassam numa rapidez de quem não olha para trás e vai seguindo em frente, fraca demais para ser barreira, transparente, porosa feito cortina de fumaça, não, não exatamente, a fumaça ao menos faz os olhos ficarem vermelhos, provoca tosse, eu não consigo abalar ninguém, um plástico, material sintético, teve pena na certa, eu não quero que tenham pena de mim, dói mais que tudo os outros olhando de cima, constatando a fraqueza nossa, a nossa inferioridade, quero que me olhem do mesmo plano..."

Caio F. Abreu

-----------------------------------------------------------------------------
"Só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas..."





Olavo Bilac
"...com a faca da nostalgia do longe cravada fundo no peito. Às vezes dói, mas logo passa também."




Caio Fernando. Abreu
“Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar de remar também.”

Caio Fernando. Abreu

-----------------------------------------------------------------------------
“Não sei como me defender dessa ternura que cresce escondido e, de repente, salta para fora de mim, querendo atingir todo mundo. Tão inesperada quanto a vontade de ferir, e com o mesmo ímpeto, a mesma densidade. Mas é mais frustrante. Sempre encontro a quem magoar com uma palavra ou um gesto. Mas nunca alguém que eu possa acariciar os cabelos, apertar a mão ou deitar a cabeça no ombro. Sempre o mesmo círculo vicioso: da solidão nasce a ternura, da ternura frustrada a agressão, e da agressividade torna a surgir a solidão. Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente.
E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim.”



Caio Fernado. Abreu

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

". . .e chorava, ela chorava. Sem escândalo, sem gemidos nem soluços, a prostituta na frente do bar chorava devagar, de verdade. A tinta da cara escorria com as lágrimas. Meio palhaça, chorava olhando a rua. Vez em quando, dava uma tragada no cigarro, um gole na cerveja. E continuava a chorar — exposta, imoral, escandalosa — sem se importar que a vissem sofrendo."


Caio F. Abreu
"Parece incrível ainda estar vivo quando já não se acredita em mais nada. Olhar, quando já não se acredita no que se vê. E não sentir dor nem medo porque atingiram seu limite. E não ter nada além deste amplo vazio que poderei preencher como quiser ou deixá-lo assim, sozinho em si mesmo, completo, total. Até a próxima morte, que qualquer nascimento pressagia."


Caio F. Abreu
"Endureci um pouco, desacreditei muito das coisas, sobretudo das pessoas e suas boas intenções. Dar um rolé em cima disso não vai ser nada fácil. E as marcas ficarão - tatuagens."

Caio F. Abreu
"Olha, eu estou te escrevendo so pra dizer que se voce tivesse telefonado hoje eu ia dizer tanta, mas tanta coisa. Talvez mesmo conseguisse dizer tudo aquilo que escondo desde o comeco, um pouco por timidez, por vergonha, por falta de oportunidade, mas principalmente porque todos me dizem que sou demais precipitado, que coloco em palavras todo o meu processo mental (processo mental: eh exatamente assim que eles dizem, e eu acho engracado) e que isso assusta as pessoas, e que eh preciso disfarcar, jogar, esconder, mentir. Eu nao queria que fosse assim. Eu queria que tudo fosse muito mais limpo e muito mais claro, mas eles não me deixam, voce nao me deixa."


"Carta para além do muro" - Caio F. Abreu
"...Tudo isso dói.
Mas eu sei que passa, que se está sendo assim é porque deve ser assim, e virá outro ciclo, depois.
Para me dar força, escrevi no espelho do meu quarto:¨Tá certo que o sonho acabou, mas também não precisa virar pesadelo, não é?¨È o que estou tentando vivenciar.
Certo, muitas ilusões dançaram - mas eu me recuso a descrer absolutamente de tudo, eu faço força para manter algumas esperanças acesas, como velas. Também não quero dramatizar e fazer dos problemas reais monstros insolúveis,becos-sem-saída.
Nada é muito terrível. Só viver,não é?
A barra mesmo é ter que estar vivo e ter que desdobrar, batalhar um jeito qualquer de ficar numa boa. O meu tem sido olhar pra dentro, devagar, ter muito cuidado com cada palavra, com cada movimento, com cada coisa que me ligue ao de fora. Até que os dois ritmos naturalmente se encaixem outra vez e passem a fluir.
Porque não estou fluindo."


Caio F. Abreu
"Naquele tempo, minha única ocupação diária era tentar não morrer. Talvez pareça excessivamente dramático dito assim, mas assim era."



Caio F. Abreu
"Verdade, eu tinha qualquer coisa assim como andar de costas, quando todos andam de frente. Qualquer coisa como gritar quando todos calam. Qualquer coisa que ofendia os outros, que não era a mesma deles e fazia com que me olhassem vermelhos, os dentes rasgando as coisas, eu doía neles como se fosse ácido, espinho, caco de vidro."



Caio F. Abreu
"Tinha desejos violentos, pequenas gulas, urgências perigosas, enternecimentos melados, ódios virulentos, tesões insaciáveis. Ouvia canções lamentosas, bebia para despertar fantasmas distraídos, relia ou escrevia cartas apaixonadas, transbordantes de rosas e abismos. Exausto então, afogava-se num sono por vezes sem sonhos."




Caio F. Abreu

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

"E de repente nos ferimos. Com a boca. Senti seus lábios nos meus, os dentes se chocando, as mãos que seguravam meu rosto, investigavam meus traços, eu nascia por dentro, quase gritava, tentávamos desvendar um ao outro, mas não íamos além da tentativa, que já se fazia angústia em nossas mãos como espinhos, subindo por meu corpo inteiro, busca tensa. Não, não era amor, não foi amor. Tudo explodia num plano muito mais alto, muito mais intenso. Nos desvendávamos com a fúria dos que antecipadamente sabem que não vão conseguir jamais."


(Caio Fernando Abreu)
"Ria sozinha quase sempre, uma moça magra querendo controlar a própria loucura, discretamente infeliz. Não que estivesse triste, só não sentia mais nada."



Caio F. Abreu
“Eu aqui tenho ido um pouco aos trancos. As vezes duvidando um pouco do acerto das opções que foram sendo feitas nos últimos anos, quando me dou por conta nesta cidade quase sempre árida, sem nenhum amor, sem paz. Um ceticismo, umas durezas que eu não tinha antes. Deixa pra lá.”


Caio F. Abreu
''Estar bem e feliz é uma questão de escolha e não de sorte ou mero acaso. É estar perto das pessoas que amamos, que nos fazem bem e que nos querem bem. É saber evitar tudo aquilo que nos incomoda ou faz mal, não hesitando em usar o bom senso, a maturidade obtida com experiências passadas ou mesmo nossa sensibilidade para isso. É distanciar-se de falsidade, inveja e mentiras. Evitar sentimentos corrosivos como o rancor, a raiva e as mágoas, que nos tiram noites de sono e em nada afetam as pessoas responsáveis por causá-los. É valorizar as palavras verdadeiras e os sentimentos sinceros que a nós são destinados. E saber ignorar, de forma mais fina e elegante possível, aqueles que dizem as coisas da boca para fora ou cujas palavras e caráter nunca valeram um milésimo do tempo que você perdeu ao escutá-las.''



(Friedrich Nietzsche)
'Não há de ser nada. Isso acontece até com os melhores. Você não deve se desesperar. As coisas voltam a ser como antes.'

Caio F. Abreu
"Fico pensando que nunca mais vai se repetir, é só uma vez, a única, e vai me magoar sempre. Não sei, não quero pensar. Neste espaço branco de madrugada e lua cheia, preciso falar, e mais do que falar, preciso dizer. Mas as palavras não dizem tudo, não dizem nada. O momento me esmaga por dentro. O espanto esbarra em paredes pedindo exteriorização."


Caio F. Abreu
Não adianta, não sei explicar. As palavras traem o que a gente sente.



Caio F. Abreu